Prepare a Mochila

Estrangeiros na Transiberiana?

Nessa jornada na Transiberiana passei por duas fases: conheci principalmente russos no primeiro trajeto e em trens mais turísticos. Já na Mongólia, encontrei viajantes de várias nacionalidades.

Índice do conteúdo

Uma curiosidade que eu tinha antes de viajar pela Ferrovia Transiberiana era se eu encontraria outros estrangeiros durante a jornada. Sabendo que essa rota é uma das mais longas e remotas do mundo, eu me perguntava se teria a oportunidade de interagir com pessoas de diferentes nacionalidades ao longo do caminho. Afinal, a ideia de embarcar em uma aventura tão épica despertava em mim a vontade de trocar experiências e perspectivas com viajantes de diversas culturas. A expectativa de conhecer pessoas de diferentes partes do mundo e compartilhar histórias em meio a uma paisagem tão vasta e deslumbrante era algo que me fascinava.

Enquanto eu estava na Rússia, tive a oportunidade de vivenciar o sistema ferroviário convencional, que é amplamente utilizado por todos os russos. Era fascinante estar imerso na cultura local e compartilhar os vagões com os habitantes do país, trocando experiências e histórias durante a jornada. No entanto, ao atravessar a fronteira para a Mongólia, percebi uma mudança significativa no sistema ferroviário. Fiquei com a impressão de que acabei embarcando em “trens de turistas”. Os trens eram mais modernos e confortáveis, o que implicava em um custo adicional.

Neste sentido, quero compartilhar com vocês como esses encontros culturais tornaram minha viagem ainda mais fascinante. Vamos lá!

Parte 1: De Moscou a Ulan-Ude – Descobrindo a Rússia Autêntica

Logo nos primeiros dias da viagem, notei algo curioso: todos ao meu redor eram russos! Parecia que não encontraria ninguém que não fosse local. Num dos trechos mais longos, a experiência de passar 36 horas em um trem sem entender nada do que é dito em russo foi verdadeiramente desafiadora

Durante esse tempo, senti-me completamente imerso em um ambiente linguístico desconhecido. Cada anúncio feito pelos alto-falantes, cada conversa entre os passageiros, tudo se desenrolava em uma língua que eu não conseguia compreender. Foi uma experiência de isolamento linguístico, onde me vi dependendo exclusivamente de gestos, expressões faciais e outros meios não verbais de comunicação para interagir com as pessoas ao meu redor. A dificuldade de compreender o que estava acontecendo ao meu redor gerava uma sensação de estranheza e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de reflexão sobre a importância da comunicação e da linguagem na nossa vida cotidiana. Foi um lembrete vívido da diversidade linguística do mundo e da necessidade de superar barreiras de idioma para nos conectarmos verdadeiramente com os outros.

Jogando baralho, em Russo!

Para tentar me comunicar, recorria a uma lista de palavras em russo que havia no meu guia de viagens, com a transliteração para facilitar a pronúncia. Cada vez que eu tentava articular uma palavra ou expressão russa, era motivo para celebração entre o grupo de jovens que jogavam cartas ao meu lado. Mesmo que minha pronúncia estivesse longe de ser perfeita, eles apreciavam meus esforços e estavam dispostos a me ajudar a melhorar. Foi uma experiência encorajadora e divertida, pois a cada nova palavra que eu aprendia e utilizava corretamente, as comemorações se intensificavam.

O momento em que aprendi a falar novamente

No entanto, em Ekaterimburgo, algo incrível aconteceu. Fui recepcionado por uma guia russa que falava inglês fluentemente. Nossa conversa fluía sem dificuldades, sem gestos, e eu me senti completamente à vontade. Era como se eu tivesse voltado a aprender a falar! E olha que era inglés, que não é o meu idioma nativo!

Normalmente, enfrento alguns desafios em conversas em inglês, mas naquele dia, eu me senti fluente. Essa sensação de ser compreendido, mesmo em um contexto estrangeiro, é algo que sempre me fascina.

Recomendo vivenciar essa experiência na Transiberiana, especialmente viajando na terceira classe, preferencialmente na baixa temporada. É uma oportunidade única de se conectar com os locais e se sentir parte da cultura russa.

Parte 2: De Ulan-Ude a Pequim

Ao atravessar a fronteira para a Mongólia, o cenário mudou completamente, e não apenas literalmente. Novas regras, leis e até mesmo uma companhia ferroviária diferente surgiram. “Aqui estrangeiros não pegam qualquer trem”, pensei.

Trens melhores significavam mais conforto, mas também um preço mais alto. Isso atraía turistas estrangeiros. E foi nessa parte da jornada que tive minha primeira colega de cabine “não local”, uma alemã que também se aventurava sozinha na maior ferrovia do mundo. Foi aí que a ideia de “estrangeiros plantando bandeira e ocupando o vagão inteiro” ganhou vida!

Um hostel sobre trilhos

No trajeto de Ulan-Bator a Pequim, quando atravessei a fronteira entre Mongólia e China, o fenômeno se intensificou ainda mais. Durante todo o trajeto, senti falta de interagir com outros viajantes “não locais” e trocar experiências sob a perspectiva de estrangeiros. No mesmo vagão, éramos um brasileiro, um espanhol, um suíço, um italiano casado com uma peruana que morou no Brasil, dois alemães, uma mexicana, um francês, duas mongóis e alguns chineses, que, para ser honesto, acabei confundindo, pois pareciam todos iguais. Era como se estivéssemos em um hostel sobre trilhos!

Esse trajeto foi marcado não apenas por paisagens deslumbrantes, como um dos desertos mais famosos do mundo, uma fronteira curiosa e a grande expectativa de avistar a Grande Muralha, que aparece em apenas 1 dos seus 1551 km. Mas também foi extremamente marcante pelas pessoas que conheci a bordo. Na foto inicial, podemos ver os passaportes dos oito indivíduos que se amontoaram na minha cabine, jogando um jogo de cartas cujas regras e nome eu não entendia, mas acredito que acabei vencendo no final!

Hoje poso dizer que a minha jornada pela Transiberiana foi uma experiência única e repleta de encontros culturais incríveis. Desde a imersão na Rússia autêntica, onde me senti parte da comunidade local, até a diversidade de nacionalidades e histórias compartilhadas no trecho da Mongólia até Pequim. A Transiberiana é muito mais do que uma viagem de trem; é uma oportunidade de conexão humana e de compreender a riqueza da diversidade cultural ao longo do caminho. Se você está em busca de experiências transformadoras, embarque nessa aventura e deixe-se surpreender pelos encontros que esperam por você na maior ferrovia do mundo.

Outros artigos que podem lhe interessar:
Scroll to Top