Prepare a Mochila

Sobre os encantadores de serpentes no Marrocos

Conheça a "arte" dos encantadores de serpentes em Marrocos e suas técnicas de manipulação, enquanto exploramos questões sobre o bem-estar animal e a ética por trás dessa prática milenar.

Índice do conteúdo

Este artigo complementa o segundo episódio do Prepare a Mochila para o Marrocos, no Youtube, intitulado “Encantadores de serpentes? Isso realmente existe?” Você pode acessá-lo aqui para entender melhor o contexto.

Uma prática comum, no Marrocos e na Índia…

Uma prática comum no Subcontinente Indiano e em alguns países do Magrebe, como o Marrocos, é a arte dos “encantadores de serpentes”. Esses artistas buscam locais onde possam atrair a atenção do público exibindo serpentes, muitas vezes exemplares do gênero “Naja”, que parecem hipnotizadas pela melodia de uma flauta encantada.

É evidente que esses artistas conseguem cativar o público facilmente, já que é impossível não prestar atenção em sua atração. Imagine-se caminhando em uma praça caótica, cheia e barulhenta, e de repente depara-se com algumas serpentes soltas pelo caminho? Certamente chamaria a sua atenção!

Todas as najas "encantadas". Jemaa el-Fna, Marrakesh, Marrocos
Todas as najas “encantadas”. Jemaa el-Fna, Marrakesh, Marrocos

A “técnica secreta”

Essa prática é antiga e envolve uma técnica secreta por trás dela. No entanto, perguntar a um encantador como ele realiza tal feito é como pedir a um mágico que revele seus truques. Pesquisando na internet, encontrei alguns pontos relevantes que gostaria de compartilhar:

  • As serpentes não possuem um ouvido físico desenvolvido; na maioria das vezes, são capazes de interpretar apenas algumas frequências pela vibração do ar, o que levanta dúvidas sobre se realmente são “encantadas” pela música.
  • A maioria das serpentes não tem uma boa visão. Imagine o encantador balançando a flauta na frente delas; isso certamente as colocaria em estado de alerta, tornando a situação perigosa.
  • Embora as serpentes possam ser quase surdas e quase cegas, ninguém as engana pelo olfato, seu sentido mais desenvolvido. Alguns encantadores colocam urina de rato na ponta das flautas para atrair ainda mais a atenção do animal pelo objeto.

Até aqui, tudo parece fascinante. Contudo, se os animais não estão sendo maltratados, não vejo problema nesta “arte de encantar serpentes”. Afinal, quem nunca “encantou” seu cachorro com um biscoito quando ele realizou um truque ou seu cavalo com um torrão de açúcar quando levantou a pata? Foi essa a minha interpretação quando vi isso pela primeira vez.

Para que essa arte funcione, é necessário escolher cuidadosamente a serpente. Precisamos de uma espécie capaz de se levantar do solo e manter-se nessa posição por algum tempo, como as najas, que parecem ideais para o espetáculo.

No entanto, todas as espécies deste gênero são altamente agressivas e venenosas, o que levanta questões sobre os riscos de manipular esses animais diariamente. Um único erro poderia ser fatal.

Najas "encantadas" na Jemaa el-Fna, em Marrakesh, no Marrocos
Najas “encantadas” na Jemaa el-Fna, em Marrakesh, no Marrocos

A parte que ninguém conta…

Aqui é onde o aspecto sombrio desta “arte” entra em cena e onde discordo profundamente da prática. Em alguns casos, os encantadores extraem as presas e as glândulas de veneno das serpentes, e em situações extremas chegam a costurar a boca dos animais.

Fiquei em dúvida se isso era verdade, então na minha segunda viagem ao Marrocos, prestei muita atenção a esse detalhe. Dos animais que vi na praça – se você assistiu ao vídeo no Youtube, sabe que cheguei bem perto – nenhum parecia ter a boca costurada, e muitos deles pareciam estar bem ativos.

As cobras menores, que estavam nas mãos dos encantadores – e em algum momento uma delas foi colocada em meu pescoço – pareciam extremamente lentas, anestesiadas ou drogadas. Fiquei com uma delas na mão por alguns instantes e pude notar essa lentidão nos animais. Não sei ao certo por que estavam assim, mas senti muita raiva naquele momento.

Najas e outras serpentes soltas na Jemaa el-Fna, em Marraekesh, no Marrocos
Najas e outras serpentes soltas na Jemaa el-Fna, em Marraekesh, no Marrocos

Fiquei de olho nos “botes” das serpentes, pois queria ver se a história dos dentes era verdadeira. Parecia que o encantador, para tornar o espetáculo mais emocionante, as provocava. Elas realmente atacavam com a boca aberta, mas infelizmente não fui rápido o suficiente para identificar se as presas estavam lá. Mais tarde, durante a edição dos vídeos em casa, encontrei casos em que as presas haviam sido retiradas.

Um dilema pessoal…

É realmente triste pensar no maltrato desses animais, e por isso me encontrei em um dilema: que abordagem tomar neste vídeo? Como expor essa situação? Imagino as diferentes reações que posso causar nas pessoas que assistirem. Estarei fomentando essa prática ao publicar esse material, ou será uma maneira de denunciá-la? A verdade é que não sei até que ponto fiz o correto em expor essa situação, mas fico tranquilo ao pensar que fui sincero o tempo todo e apenas retratei a sensação que tive naquele momento. Espero que compreendam minha intenção.

Qual é a sua opinião sobre este assunto? Você sabe mais alguma coisa sobre isso? Isso te dá medo? Raiva? Você acha isso normal? Gostaria de saber o que você pensa.

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